Representatividade

Estímulo para elas abrirem espaço na roda de samba

Cavaquinista carioca Roberta Nistra está em Pelotas para ministrar oficinas de cavaquinho para mulheres

- Roberta Nistra será uma das cantoras que irá liderar o evento Todas as Mulheres do Mundo

"Tem muito espaço para ser ocupado e meu desejo é esse, eu vim para cá com a cara e a coragem para fazer acontecer aqui também." A fala é da cavaquinista carioca Roberta Nistra, que está em Pelotas com o propósito de estimular as mulheres a entrarem com propriedade nas rodas de samba e de choro da cidade. Para alcançar esse objetivo a instrumentista e cantora oferece nesta sexta-feira (8) e sábado (9) a partir das 14h, a oficina Do zero à roda de samba, no Armazém do Campo.

Ainda para celebrar o Dia Internacional das Mulheres, marcado neste 8 de março, também no Armazém do Campo, na noite de desta sexta, às 20h, haverá uma roda de samba com a presença de 23 cantoras que se dedicam a este gênero musical em Pelotas, além de mulheres na percussão, violões e cavaquinho. O evento, intitulado Todas as Mulheres do Mundo, será liderado pela cantora Xana Gallo e pela cavaquinista Roberta Nistra. No sábado, às 21h, a dupla voltará a comandar outra festa no Terrário, praça Coronel Pedro Osório, 63A.

Xana Gallo, que está ciceroneando a carioca, e Roberta se conheceram em 2019, no Rio de Janeiro, na roda de samba de mulheres do Rio de Janeiro. "É um movimento que está acontecendo, que se faz muito necessário, e que começou lá no Rio, porque existe uma falta de mulheres nas rodas de samba. Eu conheci a Roberta, como diretora musical deste evento", lembra a cantora pelotense.

De lá para cá as artistas mantiveram contato e fortaleceram a amizade. Xana, que desde o ano passado lidera rodas de samba na noite pelotense, comentou para Roberta que sente a falta de mais representantes do feminino tocando instrumentos de corda. Foi quando a carioca se dispôs a vir ao município e ensinar interessadas em tocar cavaco, como uma forma de estimular a entrada delas neste universo da música popular.

"Em Pelotas nós temos grupos de mulheres que tocam instrumentos de percussão. Têm muitas mulheres tocando surdo, caixa, pandeiro. Mas a gente ainda não consegue montar uma roda de samba completa somente com elas. Existe só um grupo que toca pagode e tem uma mulher no cavaco, mas elas não conseguiram uma violonista", fala a cantora.

Diretora musical

Nascida em Vila Isabel, bairro da Zona Norte, da cidade do Rio de Janeiro, Roberta toca instrumentos de corda (violão, cavaquinho e bandolim) desde muito jovem. Aos 18 anos, em meados da década de 1990, tocava com nomes importantes do samba, como Moreira da Silva e Jamelão. "Eu passei por várias coisas nessa caminhada de tocar samba e choro, muitos lugares não me deixavam entrar e, na minha época, não tinham muitas mulheres tocando. Eu tenho 45 anos e são muito mais que 20 anos de carreira", conta.

Ao longo dessas duas décadas, Roberta se firmou no cenário musical também como cantora, compositora e diretora musical. Ela integrou a banda, formada só por mulheres, que acompanhou a cantora Teresa Cristina, durante a turnê Um Sorriso Negro. Foi indicada ao Prêmio da Música Brasileira e pertence à gravadora Biscoito Fino. "Mas eu sinto que ainda têm muitos obstáculos, tem muita água para correr debaixo dessa ponte de mulheres instrumentistas. O samba é um ambiente muito masculino", diz a artista.

A instrumentista celebra que o evento em que conheceu a Xana Gallo vai chegar a sua sétima edição em 2024. "É uma grande reunião de mulheres que tocam, quando começou apareceram tantas mulheres, que a gente nem imaginava e isso foi uma coisa que nos motivou. De um ano para outro duplicou a participação de mulheres neste evento. A gente ficou muito feliz de ver isso."

De 1996 até o início dos anos 2000, Roberta integrou a primeira banda totalmente feminina do Rio de Janeiro. "Depois disso as coisas começaram a mudar um pouco, hoje tem blocos (carnavalescos) só de mulheres. Muitos movimentos musicais só femininos. No Rio está começando a melhorar e temos mulheres tocando violões de seis e sete cordas, que têm suas presenças muito disputadas em eventos e shows", diz.

Para iniciantes e iniciadas

As oficinas que Roberta vai ministrar em Pelotas são para iniciantes e iniciadas e apesar de ser voltada para mulheres, os homens não vão ser barrados. "Essa oficina de cavaco quero que seja um lugar seguro para as mulheres chegarem sem ser criticadas, porque quando uma mulher se aproxima de um espaço coletivo (e masculino) para tocar, ela é colocada meio de lado. A ideia é que essa oficina seja esse lugar em que elas vão se sentir motivadas a continuar", diz a musicista.

A ideia é falar às iniciantes sobre como escolher um instrumento, anatomia do cavaquinho, além de ensinar algumas levadas também. "Se chegar alguma aluna com um nível um pouco mais avançado, vou falar com ele, mas no geral é para quem não sabe nada", explica a instrumentista. As inscrições podem ser feitas na hora, com pagamento via pix, no valor de R$80,00. Apoio Centro Musical Batuta.

Serviço

O quê: oficinas de cavaquinho com Roberta Nistra
Quando: nesta sexta e sábado, às 14h
Onde: Armazém do Campo, rua Padre Anchieta, 1.212
Inscrição: R$80,00 (pix: [email protected]) comprovante para @xanagallo (Instagram)

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Curta metragem“O sol vai voltar amanhã” estreia na mostra OtroPorto-UFPel Anterior

Curta metragem“O sol vai voltar amanhã” estreia na mostra OtroPorto-UFPel

Livro refaz a trajetória de 20 anos do primeiro espetáculo do Tholl Próximo

Livro refaz a trajetória de 20 anos do primeiro espetáculo do Tholl

Deixe seu comentário